Carlos Lombardi sempre me cansou. Engraçado, ele impõe um
ritmo acelerado nas sequências e diálogos de suas tramas noveleiras, mas me
cansa... Porquê? Simples, a estratégia é
sempre a mesma: homens gostosos descamisados, um vilão ou um protagonista de voz
meio rouca e corrida repleta de ondulações vocais, suas protagonistas são
sempre histéricas ou mesmo burras, aparece um bando de mulheres sexualmente
livres e muito exuberantes esparramadas pelo elenco e sem muita finalidade a fora
encher a tela, além de amores absurdos e improváveis em tom de comédia dos
erros. A retórica e recursos se repetem ao longo das décadas, o que me fez
fugir dele e suas novelas, o que eu fiz na primeira semana de exibição de
Uga-uga, catorze anos atrás... Porém,
ele muda de casa e da Globo para a Record, pensei: -“Será que ele
evoluiu?” Que nada, algo até mudou mas
95% permanece tal qual sempre foi.
Mantida a idéia dos folhetins, que o Brasil seguiu no começo
da telenovela, e adotados no México até hoje de forma integral, aonde o casal
que começa termina junto após todos os absurdos imagináveis, saibam, ele segue exatamente
este modelo, padrão-folhetinesco. Seria impossível para este autor abordar a
década de 70 mostrando a ditadura em sua fase mais pesada ( aproveitando o
ensejo do cinquentenário do Golpe de 1964 ), idem para a expansão do surf nas
praias cariocas, o começo dos “quiosques”, as discotecas com as coreografias da
época, diálogos com gírias exclusivas e pertinentes aos anos 70, mas não...
Isso não é coisa para ele! Poderia ser para Lauro Cesar Muniz , Gilberto Braga e
até mesmo Silvio de Abreu ou Mário Prata,
porém nunca para Carlos Lombardi...
Essa trama começou boa, mas foi perdendo elementos de base
em seu casal de protagonistas. Aconteceu primeiro com Michele e agora com Carlão
( Fernando Pavão ). Carlão é um homem adulto que tem tendências masoquistas,
submisso em tudo a sua mulher, possui um forte lado feminino sendo uma mãe as
avessas para seus filhos, e parece
brincar de “homem de verdade” quando se aproxima de seus parentes de sangue.
Sua partner Patrícia ( interpretada por Simone Spoladore ),
é uma mulher desequilibrada, dominadora, rígida no que lhe convém ao
pensamento, obcecada por sua carreira, tem a família como pano de fundo , sua
casa apenas um lugar para dar ordens e dormir, além de possuir uma idéia fixa
de justiça que ultrapassa as barreiras da própria lei. Sim senhores, esse é o
casal principal, que provavelmente ficará junto no final, da mesma forma que
começou na novela, porque personalidades não mudam. Adaptam-se, mas ninguém
muda o que é. Foi engraçado no começo, agora esgotou.
Até Mel Lisboa, a Marcinha, pediu pra sair. Coitada... Percebeu que seu personagem iria ficar
repetindo ad eternum a mesma conduta
e preferiu se dedicar a uma peça teatral e deixar morrer atropelada a sua personagem.
Embora não concordar muito com a interrupção de seu contrato, não posso deixar
de bater palmas para ela, foi muito corajosa!
No curso da novela, fala-se muito sogro de Carlão, que seu
Evaldo ( interpretado por Henri Pagnoncelli ) pai da
tal “Pa” permeou sua criação com rigidez e certo mimo, sendo um homem duro e
inflexível, no que eu discordo completamente, porque ele é um fofo com todos de
seu núcleo, mas que deve ter mimado muito a filha, não duvido.
O grande vilão Picasso ( interpretado pelo
ator Vitor Hugo ), me faz lembrar tanto do Humberto Martins... Até na voz! O
interessante, é que fisionomicamente não
há qualquer semelhança entre eles, mas... Fazer o que, não é culpa do ator que
na época de Quatro por quatro de autoria do Lombardi contava 17 anos e devia
estar fazendo algo melhor da vida adolescente para assistir aquela confusão de
novela. Isso é coisa do diretor, que deu sua “pitada” ou “deixa” para o ator
reproduzir o “Bruno” da outra novela, direção que por acaso é exercida pelo
mesmo Alexandre Avancini nas duas novelas!!!!Pasmem....
A antagonista, que para mim é a grande
protagonista, Dorotéia Ashcar (
interpretada por Paloma Duarte ), é a única personagem que não parece com
qualquer coisa criada por Lombardi. É um personagem completo, uma pessoa
possível de existir, com acertos e erros e junto com Laura Escobar ( Carla
Regina Cabral ), são as personagens mais bem construídas da trama e salvaram a
novela com suas interpretações.
Não me interessa como Pecado Mortal vai terminar, já
alcançou seu objetivo matando minha paciência, porque para mim realidade é algo que as novelas devem passar para o
telespectador, mostrando uma lição no fim. Não há dúvida sobre o desfecho da trama. Será
um final óbvio, já anunciado e padronizado por Lombardi, então é perda de tempo
continuar assistindo. Cheguei a essa conclusão ainda em 1992 com Perigosas
Peruas.
Mas eu também sei elogiar! Parabenizo o autor pela criação
de Dorotéia e Laura, de um universo de mais de noventa personagens, até que
está bom demais, dois se salvarem.