quarta-feira, 2 de abril de 2014

Pecado Mortal, matando minha paciência


Carlos Lombardi sempre me cansou. Engraçado, ele impõe um ritmo acelerado nas sequências e diálogos de suas tramas noveleiras, mas me cansa... Porquê? Simples, a  estratégia é sempre a mesma: homens gostosos descamisados, um vilão ou um protagonista de voz meio rouca e corrida repleta de ondulações vocais, suas protagonistas são sempre histéricas ou mesmo burras, aparece um bando de mulheres sexualmente livres e muito exuberantes esparramadas pelo elenco e sem muita finalidade a fora encher a tela, além de amores absurdos e improváveis em tom de comédia dos erros. A retórica e recursos se repetem ao longo das décadas, o que me fez fugir dele e suas novelas, o que eu fiz na primeira semana de exibição de Uga-uga, catorze anos atrás...  Porém, ele muda de casa e da Globo para a Record, pensei: -“Será que ele evoluiu?”  Que nada, algo até mudou mas 95% permanece tal qual sempre foi. 

Mantida a idéia dos folhetins, que o Brasil seguiu no começo da telenovela, e adotados no México até hoje de forma integral, aonde o casal que começa termina junto após todos os absurdos imagináveis, saibam, ele segue exatamente este modelo, padrão-folhetinesco. Seria impossível para este autor abordar a década de 70 mostrando a ditadura em sua fase mais pesada ( aproveitando o ensejo do cinquentenário do Golpe de 1964 ), idem para a expansão do surf nas praias cariocas, o começo dos “quiosques”, as discotecas com as coreografias da época, diálogos com gírias exclusivas e pertinentes aos anos 70, mas não... Isso não é coisa para ele! Poderia ser para Lauro Cesar Muniz , Gilberto Braga e até mesmo Silvio de Abreu ou  Mário Prata,  porém nunca para Carlos Lombardi... 

Essa trama começou boa, mas foi perdendo elementos de base em seu casal de protagonistas. Aconteceu primeiro com Michele e agora com Carlão ( Fernando Pavão ). Carlão é um homem adulto que tem tendências masoquistas, submisso em tudo a sua mulher, possui um forte lado feminino sendo uma mãe as avessas para seus filhos,  e parece brincar de “homem de verdade” quando se aproxima de seus parentes de sangue. Sua partner Patrícia ( interpretada por Simone Spoladore ), é uma mulher desequilibrada, dominadora, rígida no que lhe convém ao pensamento, obcecada por sua carreira, tem a família como pano de fundo , sua casa apenas um lugar para dar ordens e dormir, além de possuir uma idéia fixa de justiça que ultrapassa as barreiras da própria lei. Sim senhores, esse é o casal principal, que provavelmente ficará junto no final, da mesma forma que começou na novela, porque personalidades não mudam. Adaptam-se, mas ninguém muda o que é. Foi engraçado no começo, agora esgotou. 

Até Mel Lisboa, a Marcinha, pediu pra sair. Coitada...  Percebeu que seu personagem iria ficar repetindo ad eternum a mesma conduta e preferiu se dedicar a uma peça teatral e deixar morrer atropelada a sua personagem. Embora não concordar muito com a interrupção de seu contrato, não posso deixar de bater palmas para ela, foi muito corajosa!
No curso da novela, fala-se muito sogro de Carlão, que seu Evaldo ( interpretado por Henri Pagnoncelli ) pai da tal “Pa” permeou sua criação com rigidez e certo mimo, sendo um homem duro e inflexível, no que eu discordo completamente, porque ele é um fofo com todos de seu núcleo, mas que deve ter mimado muito a filha, não duvido.  

O grande vilão Picasso ( interpretado pelo ator Vitor Hugo ), me faz lembrar tanto do Humberto Martins... Até na voz! O interessante, é que fisionomicamente  não há qualquer semelhança entre eles, mas... Fazer o que, não é culpa do ator que na época de Quatro por quatro de autoria do Lombardi contava 17 anos e devia estar fazendo algo melhor da vida adolescente para assistir aquela confusão de novela. Isso é coisa do diretor, que deu sua “pitada” ou “deixa” para o ator reproduzir o “Bruno” da outra novela, direção que por acaso é exercida pelo mesmo Alexandre Avancini nas duas novelas!!!!Pasmem....

A antagonista, que para mim é a grande protagonista,  Dorotéia Ashcar  ( interpretada por Paloma Duarte ), é a única personagem que não parece com qualquer coisa criada por Lombardi. É um personagem completo, uma pessoa possível de existir, com acertos e erros e junto com Laura Escobar ( Carla Regina Cabral ), são as personagens mais bem construídas da trama e salvaram a novela com suas interpretações. 

Não me interessa como Pecado Mortal vai terminar, já alcançou seu objetivo matando minha paciência, porque para mim realidade  é algo que as novelas devem passar para o telespectador, mostrando uma lição no fim.  Não há dúvida sobre o desfecho da trama. Será um final óbvio, já anunciado e padronizado por Lombardi, então é perda de tempo continuar assistindo. Cheguei a essa conclusão ainda em 1992 com Perigosas Peruas. 

Mas eu também sei elogiar! Parabenizo o autor pela criação de Dorotéia e Laura, de um universo de mais de noventa personagens, até que está bom demais, dois se salvarem.

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